terça-feira, 29 de setembro de 2009

My creation.

Parte I

Nada demais.

Era luar na cidade de Manaus, no Amazonas. As gotículas de chuva incrustavam na copa das árvores frondosas nas avenidas movimentadas e barulhentas da capital. Era uma chuva forte, na verdade, um homem de 17 anos caminha pela cidade usando um casaco , muito molhado por causa da chuva, andava calmamente, tinha olhos verdes que contrastava com o cinza sem graça daquela cidade, os cabelos negros escorriam com a chuva e sua pele pálida se destacava na noite escura, passava a mão nos cabelos como quem se acaricia para livrar de algum mal, chega agora no corredor de um shopping, desejava pegar um atalho para sua casa, o barulho de seu tênis molhado chamava a atenção das pessoas ao redor, porém o garoto não ligava, coloca seu earfone no último volume em um heavy metal e anda pelo corredor sem olhar para o rosto das pessoas. Finalmente o rapaz chega ao outro extremo e sai pela lateral, ainda chovendo o rapaz decide andar lentamente, sabe que se correr se molhará mais. Finalmente chega até um condomínio de classe média. Entra e fala brevemente ao porteiro.
_ Algo pra mim? - Interroga o rapaz.
_ Não senhor - O porteiro faz um sinal negativo.
_ Obrigado - O rapaz cabisbaixo continua até o elevador, tira seu tênis e meia totalmente molhados e vai até a garagem sacudir o excesso de água. Ao terminar o seus pés tremem com a frieza da cerâmica, anda rapidamente até o elevador e espera o mesmo chegar, ao abrir a porta um monte de gente mal humorada sai, o rapaz olha com desprezo todas aquelas pessoas, desiludidas, com raiva do mundo, máquinas de constante trabalho e não sabem diferenciar o aroma de uma noite chuvosa. Para o rapaz o aroma rapaz aquele era um aroma claro, a névoa branca e macia acariciava a pele quente, os olhos ficavam úmidos e se mantinham sempre voltados para a natureza, aquele verde grandioso que se modifica com a refração lenta da luz nas folhas das árvores dando um show de cores aos olhos mais atentos. Entra no elevador e se encosta em sua parede metálica, um ventilador leve já é o suficiente para arrancar um sorriso e um arrepio, os olhos verdes se fecham ao sentir a água deixando sua pele e tirando-o calor. Quando finalmente escuta um som agudo, e a porta se abre, o rapaz tira o casado e sua camisa totalmente molhados e abre a porta de sua casa, não encontra ninguém na sala e logo fecha a porta. A sala era grande, com três sofás e uma televisão, um tapete marrom e uma luminária levemente moderna, uma varanda que dá acesso à uma vista linda, o rapaz se dirige até a varanda e pendura suas roupas. O corpo magro do rapaz é exposto ao vento ta noite e logo começa a tremer, sua calça está mais seca do quê as outras peças de roupa, por isso pôde esperar, o tênis vai direto para a lavanderia que tinha um delicado cheiro de hortelã. A cozinha era grotesca e fria, totalmente tecnológica, era a parte da casa que o rapaz menos gostava.
_ Júlio? - Uma for grave fala baixinho na sala.
" A, finalmente ele perceber " - O rapaz contem o riso.
_ Oi, Mateus... - O rapaz sorri para o irmão.
_ Ainda bem! - O irmão o abraça, a pele quente do irmão o causa um arrepio, logo Mateus sente o frio da pele do irmão.
_ Você veio andando nessa chuva denovo?
_ Eu ... gosto da chuva... - O irmão sorri.
_ Quer ficar doente?
_ Não... eu só queria andar na chuva - Fala Júlio com um olhar intenso.
_ Tudo bem, vá se secar - Mateus vai até a varanda e joga uma toalha.
Júlio caminha agora lentamente até o quarto, fecha a porta e retira sua calça, enrola-se na toalha e procura uma roupa para vestir naquela floresta que era o quarto dos dois irmãos, o quarto era um azul escuro intenso, as duas camas eram médias e paralelas, com um criado-mudo entre elas, um abajur levemente esculpido e pintado com uma tinta dourada quebrava a monotonia da peça, o teto apresentava um enorme ventilador que não fora ligado pelo frio que Júlio estava sentindo, havia uma porta indo para a varanda, porém nunca fora aberta. Mas era uma verdadeira floresta, roupas por todo o lado, cama desarrumada, uma peça de meia no ventilador do teto. Aquilo era o quarto em sua desorganização cronica. Júlio treme , seus olhos verdes seguiam inquietos atrás de alguma peça de roupa. Logo, veste uma bermuda e uma camisa azul-claro. Dobra organizadamente a toalha e sai do quarto.
_ Mateus? - Júlio olha para fora do quarto, se dirigindo até a sala. Anda sorrateiramente até a cozinha, deixa a toalha na lavanderia. Olha desconfiado para todos os cantos e procura o irmão. Chega até a sala.
" Ele deve estar no banh... " Um impulso joga-o até o sofá, sem reação um peso se posta em seu peitoral. Júlio fecha os olhos, mas quando abre vê o rosto do irmão. Olhos negros, igual a seus cabelos, pele parda, aparência completamente diferente de seu irmão, parece que nem tinham saído do mesmo útero. Eles logo se abraças longamente. A relação dele era mais do quê irmãos , eram amigos, seus laços eram fortes e jamais poderiam ser rompidos, cada abraço e cada lágrima fortalecia o laço dos dois, cada encontro de olhares e cada sorriso, cada palavra parecia acariciar seus sentidos, sentia paz quando estava com o irmão. O abraço estava tomado, a alma não habitava mais em dois corpos diferentes. Uma lágrima incrusta no olho de Mateus, depois de 8 longos minutos os dois se separam, com Júlio caindo do sofá.
_ Bom te ver também - Júlio sorri.
_ Senti sua falta - Mateus dava a mão pra o irmão se levantar.
Palavras não eram necessárias, o elo é tão forte que só por pensamento já sabiam o quê fazer. Isso só acontecia teoricamente em gêmeos, mas sempre há exceções não é? . Júlio ama profundamente o irmão, um amor que todos os irmãos deveriam sentir um pelo outro. Júlio não sabia realmente o quê Mateus sentia, mas Mateus falava constantemente que o amava, o quê é verdade, até mais do quê Júlio o ama ou talvez menos, mas era frio, não demonstrava, isso feria muito Júlio, que sempre foi considerado como o diferente da família, extremamente estudioso e organizado, fora convidado pro uma escola medica de Portugal para futuramente estudar na universidade de Coimbra, mas a convocação ainda não chegava. Júlio não sabia mas isso fazia seu irmão chorar constantemente. Mas não demonstrava.
_ Irmão, e a mamãe, o papai? - Pergunta Júlio.
_ Eles ainda estão no plantão - Mateus fala sorrindo.
_ Me acostumei com a ausência deles...
Mateus e Júlio foram acostumados desde criança a cuidarem um do outro. Talvez por isso os dois se amam tanto e de certa forma se completam. São opostos em cada pedaço de sua personalidade.
_ Pode deixar, eu cuido de ti - Fala Júlio sorrindo.
_ Eu sou o mais velho, ok? - Fala Mateus orgulhoso dos seus dezoito anos.
_ Tá, quer cozinhar , velhão? - Fala Júlio irônico.
_ Desculpa, mas se você não cozinhar nada, eu vou morrer de fome.
_ Pode deixar - Júlio sorri.
Em alguns minutos a casa é inundada por um cheiro sem igual, era algo como frango com algum tipo de molho especial, o cheiro deixa a casa totalmente perfumada.
_ Que bom que você aprendeu a cozinhar - Fala Mateus sorrindo.
_ É ? Se eu não tivesse aprendido com o pai nós estaríamos mortos de fome até eles chegarem - Júlio sorri.
_ Vamos logo com o rango, estou morto de fome - Mateus põe os pratos na mesa.
Júlio traz a frigideira até a mesa, mas derruba parte da comida na mesa.
_ Júlio! - Fala Mateus exclamando.
...
Júlio corre para o banheiro cambaleando entre as paredes, uma vertigem forte o atinge, ele se tranca no banheiro e se senta no chão, lacrimejando desesperado até que passe.
_ Júlio! Abre a porta agora! - Fala Mateus batendo violentamente na porta - Júlio, não faz isso comigo!
Júlio começa a chorar.
_ Júlio! ABRE ISSO! - Um soco de Mateus abre a porta violentamente e logo ele se abaixa e abraça o irmão.
_ Tudo bem... eu estou aqui - Mateus enxuga as lágrimas de Júlio.
O abraço de Mateus era uma fortaleza para seu irmão. Ele parava gradativamente de chorar, e coloca o braço envolvendo o troco de seu irmão, e aproxima os dois.
_ Desculpa por ter gritado contigo, desculpa... - Mateus sorri pro irmão.
_ Sem problema a culpa foi minha mesmo...
_ Vamos jantar irmão - Mateus levanta o irmão e o leva até a cozinha apoiado em seu ombro.
Mateus agora não tirava os olhos do irmão, raras vezes seus olhares se encontravam, mas Júlio fez questão de encará-lo por uns minutos, até que Mateus se concentrasse e volte a comer o seu jantar. Os olhos verdes em contrate com o vermelho intenso pelo choro estavam deixando o rosto de Júlio incomum, isso deixava Mateus preocupado, a pele pálida do irmão saia pela camisa e ainda tremia pelo frio, não deixava de ver uma aparência doente em Júlio. Se preocupada, não conseguia mais se imaginar sem o irmão, era como perder um órgão vital e viver através de máquinas pelo resto da vida até que uma alma caridosa venha e desligue os aparelhos e lentamente mergulhe na escuridão, e quem sabe na luz eterna. Mas não gosta de pensar nisso, o irmão estava ali, ele o amava mais do que tudo na vida.
_ Júlio, eu te amo meu irmão. - Fala Mateus em um tom sério.
_ Isso derrepente? Mateus, no quê está pensando? - Júlio o olha sério.
Mateus serra o punho violentamente e aperta a mandíbula. Logo, ele sente uma mão puxar sua cabeça em direção ao irmão, e Júlio beija-lhe a testa.
_ Eu não vou te deixar em paz tão cedo - Júlio sorri.
_ Haha! Nem brinca com isso - Mateus volta a comer.
Ao terminar o jantar os dois rapazes se dirigem até o quarto. Trocam alguns sorrisos e abraços, entre olham-se antes de cair no sono.

Continua

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