terça-feira, 22 de setembro de 2009

Dois rios


Noá está deitado na cama com os olhos fechados, tremendo.
- Noá, acorde, vamos isso não tem graça! Irmão !! Acorde! - Lágrimas começam a sair dos olhos do Ron, seus gritos não eram ouvidos pelo irmão.
_ Vamos irmão, não faça isso! - Ron percebe que ainda há movimentos respiratórios.
Logo ele pega o telefone, tremendo, e disca para emergência.
_ Emergência? Por favor, mande uma ambulância urgente para a avenida Grande jardim. Número 102. Tem uma pessoa passando mal aqui.
_ Claro, em um minuto uma ambulância chegará ai!
_ Você vai ficar bom irmão, eu sei que vai - Ron segura o corpo do irmão e o levanta, coloca seu braço sobre o ombro e o carrega com cuidado até a sala, onde o deita no sofá. O corpo de Noá está ficando cada vez mais quente. Logo, escuta-se o som da sirene e a cena vai ficando mais turva.
O movimento da ambulância em altíssima velocidade deixava Ron enjoado, mas estava ao lado do irmão na cabine. Uma enfermeira aparentemente muito experiente acalmava o rapaz que ainda estava em estado de choque.
- Ele vai ficar bem?
- Eu tenho certeza que vai - A enfermeira fala com a voz doce.
- Por favor... eu não posso perdê-lo, é meu irmão - Ron começa novamente a lacrimejar.
- Não se preocupe, nós cuidaremos bem de... - A ambulância para e logo todas as pessoas se movem, a porta abre com violência e o cheiro de hospital invade o lugar, a maca carrega o corpo de Noá até a sala de emergência. Ron corre atrás da maca com velocidade e logo um enfermeiro o barra.
- Senhor, por favor, fique na sala de espera, aqui só pode entrar com diploma - O enfermeiro sorri.
- Mas é meu irmão...
- Mantenha a calma, fique ali por favor - O enfermeiro abre a porta da sala de espera, Ron se senta violentamente no sofá e logo começa a caminhar pela sala. O tempo passa, uma hora, duas horas. Ron está inquieto no sofá, translúcido ainda pelo medo. Olhando compulsivamente para aquela luz vermelha na porta.
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1:22 minutos da madrugada.
A luz apaga, Ron está dormindo com uma revista na mão. O médico toca o braço do rapaz e ele acorta assustado.
- O... e então... como ele esta? Por favor doutor me diga alguma coisa - Ron se aproxima.
- Bom... vou ser o mais sincero possível. Seu amigo teve um AVC, acidente vascular cerebral, ele corre um grande risco, nesse momento ele está em um pseudo-coma. Mas se quiser, já pode vê-lo.
Ron não espera o médico terminar de falar, e logo corre pelo corredor, vê algumas salas vazias, chega ao setor de UTI, alguém o para.
- Senhor, tem que...
- Aqui ó - Ron joga as chaves e a carteira encima da gentil enfermeira, lava as mãos com álcool. A enfermeira entrega uma bata e uma máscara para o rapaz. Ele logo em seguida veste e procura o irmão. Não acha.
- Onde ele está?
- Aquele que acabou de chegar? Ele não está na UTI.
- Graças a Deus, onde ele está?
- Está naquela sala ao lado, é uma sala de vigília, não vai poder ficar muito tempo. Qualquer sinal de alterações vamos ter que levá-lo para UTI, então, aproveite bem seu tempo - A enfermeira sorri.
- Muito obrigado.
Ron sente o cheiro intenso de hospital na sala onde Noá está. Logo um impacto atinge seu corpo, Noá estava deitado na cama respirando com ajuda de alguns aparelhos. Seu braço estava completamente pálido e seu corpo estava coberto por alguns finos panos e uma bata. Porém a sala estava extremamente fria.
- Noá... eu...
Noá estava inerte naquela cama, totalmente imóvel. Ron se senta ao lado dele e segura o braço do irmão.
- Me perdoe... isso é tudo culpa minha! Noá, eu te amo, você é meu irmão, eu nunca mais poderia me imaginar sem você. Por favor não morra, você é essencial, eu te amo... você é meu irmão...
Ron segura os dedos pálidos de Noá e começa a rezar compulsivamente.
O médico entra no momento, coloca a mão sobre o ombro do rapaz.
- Sinto muito, mas as chances dele vir a falecer é enorme...
- Não, não pode ser! Noá - Ron aperta a mão de Noá com muita força - Não pode ser, isso não pode estar acontecendo, não pode - Ron coloca o Rosto contra o peitoral de Noá e sente os fracos batimentos cardíacos.
- Meu irmão, meu único irmão, não pode ser.
O médico cabisbaixo o chama para sair da sala.
- Seu tempo de visita acabou - O médico fala triste.
- Não, por favor... não vou... eu não posso sair do lado... - Algo interrompe, os dedos de Noá começam a se mover.
- Impossível! - O médico arregala os olhos - Isso é impossível, imediatamente, trava a eritropoetina junto com adrenalina! Rápido! - Os enfermeiros afobados começam a procurar em pequenos frascos a combinação correta.
- Ele vai sobreviver!?
O médico coloca uma moeda na ponta dos dedos de Noá, e ele começa a mexê-los.
- O córtex cerebral dele voltou a atividade, mas como? - O médico fala - " É um milagre " ... - O médico contém uma lágrima no canto do olho.
- Rapaz, preciso que saia, entraremos em cirurgia.
- Tu-tudo bem! - Ron sai rapidamente da sala e é guiado para sala de espera.
A espera era infindável, o rosto pálido do Ron coberto por suor não escondia a angustia da espera. Era manhã já, perdera seu estágio, Não se importava mais com nada. O barulho dos carros já era presente, o sol esquentava o negro chão daquela cidade. Ronney estava pensando nos bons momentos que tiveram, quando Noá chegou na cidade, a grande festa que fizeram, filmes, bebida. A tensão do vestibular era imensa. As lembranças eram mais fixas do quê nunca, só pensava em falar com o irmão. Só pensava em reviver todos os bons momentos, só pensava em reencontrar o irmão. Não parava de pensar, de rezar. Suas mãos não paravam de tremer e sua mente não parava de repetir o nome " Deus ". Não sentia fome por passar horas sem comer. A espera agora passou a ser torturante, os enfermeiros passavam por aquela porta e não traziam notícia. Sua voz estava rouca de tanto falar sozinho na sala, havia relido umas 30 vezes a Veja da semana passada, cansado de saber as fofocas inúteis ele se levanta e decide perguntar por seu irmão, quando finamente uma enfermeira o chama.
- Ronney?
- Sim, por favor, alguma notícia boa? - Ron segura a enfermeira fortemente pelos ombros.
- A recuperação da cirurgia ainda vai durar uma hora, por favor tenha paciência, todos os enfermeiros estão comentando sua ansiedade, até que somente eu tive a piedade de vir aqui te contar - A enfermeira sorri.
Ron contem o riso - Obrigado... ele está bem?
- Sim... ele está, mas não sabemos se ele vai acordar, com licença - A enfermeira se retira.
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9:11 Hospital universitário.
Ron estava com as pálpebras pesadas, seu sono estava sendo inevitável.
- Senhor? venha comigo por favor - A enfermeira o leva por uma porta branca, nesse momento uma paz enorme o invade. O seu coração começa a bater mais forte quando vai atravessar a porta branca do hospital. Ele avista Noá acordado, olhando para os pés, acompanhando o movimento dos seus dedos com os olhos. É um exercício biológicos que engenheiros não entenderiam.
- No... - A voz de Ron falha.
- Ei ei... você... Ron... - Noá sorri gentilmente pra ele.
- Graças a Deus... - Fala Ron.
- Ei, não tá esquecendo de nada?
Ron olha para os lados, pra trás, não se toca de nada e fica sem entender.
Logo um tremor e um barulho invade a sala. Noá começa a forçar seus músculos a reagirem, seu abdómen se contrai e ele levanta o tronco, suas pernas são lentamente colocadas para fora da cama. Ron assiste tudo sem saber o quê fazer. Noá pega o suporte do soro e começa a andar lentamente em direção ao irmão. Ron só consegue ficar olhando. Quando chega próximo Noá faz o máximo do esforço e abraça o irmão. Ron não entende aquilo, achava que estava sonhando, mas era real.
- Eu sei o quê você fez por mim... Ron, você é um louco - Noá sorri - Eu te amo meu irmão.
Ron abraça Noá compulsivamente e começa a chorar e a soluçar.
- Ei ei, calma, Ron - Noá sorri e começa a secar as lágrimas do irmão.
- Agora eu vou me deitar antes que meus músculos cheguem ao limite.
Ron o ajuda a deitar. E fica ao lado do irmão o tempo todo, não para de olhar o quão forte Noá foi.
- Eu disse, eu não vou te deixar tão cedo - Fala Noá sorrindo.
- É eu imaginei - Fala Ron.
- Sabe quando eu...
Noá sente a cabeça de Ron deitando-se lentamente encima de seu ombro. A exaustão toma conta do corpo dele, e cai em um sono profundo.
- Muito obrigado. Meu irmão...




FIM

Aos que gostaram, comentem. É um dos meus primeiros contos improvisados. Então sintam-se a vontade para criticar.
Forte abraço.
Unknow Artiste.

Um comentário:

  1. Err, nem sei o que falar MAOE/
    Ah cara, você é meu irmão. Obrigado por tudo ;D

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